Sergio Cruz Lima
O choro de Mota Maia
Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Apeado do trono pelo movimento republicano que alcança a sua meta maior em 15 de novembro de 1889, o imperador Dom Pedro II, a imperatriz Teresa Cristina, o conde d´Eu, a princesa Isabel, os meninos Pedro, Luís e Antônio, filhos do casal d´Eu, e o príncipe Pedro Augusto, filho da princesa Leopoldina e do duque de Saxe, além do conde Mota Maia, desembarcam em Portugal. É o exílio.
Ainda em dezembro, morre a imperatriz, vítima de problemas cardíacos. No ano seguinte, Dom Pedro, acompanhado pelo conde Mota Maia, encontra-se em Paris, cidade em que pretende viver. Mas há problemas financeiros. E o imperador troca ideias com seu médico e amigo sobre a difícil situação em que a família imperial se encontra no exílio, pois havia perdido todos os bens após o seu banimento pelo governo do marechal Deodoro da Fonseca.
O conde Cláudio Velho da Mota Maia, então com 48 anos, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1875, cinco anos depois, fora nomeado médico da Casa Imperial. Amigo pessoal do imperador e seu médico particular, Mota Maia acompanha-o na viagem ao exílio e com ele permanece, sempre solícito e seu conselheiro, até a morte de Dom Pedro II, em 1891. Na ocasião, o médico entra em conflito com Dom Pedro ao afirmar que ele parece estar querendo dificultar o problema ao recusar uma quantia em dinheiro enviada do Brasil: "Vossa Majestade não se recorda de que estamos quase sem recursos, devendo ao hotel, constrangidos a efetuar longas economias". Irritado, doente e cansado, Dom Pedro responde: "Já sei, já sei". Mas tenta ignorar a advertência ao dizer que "precisa atender aos pobres que lhe estendem a mão". Calmo, Mota Maia fala: "Não pode, meu senhor, não pode, me perdoe a franqueza, mas Vossa Majestade não tem condições de dar esmolas". O imperador levanta-se. Reflete por um tempo e diz: "Sabe, Mota Maia, nutro de a muito tempo um belo projeto que julgo próprio a realizá-lo agora. Ouça, estou resolvido a imitar o exemplo de um imperador como eu, Carlos V. Entrarei em um convento e aí passarei os poucos dias que me restam de vida, um convento que possua uma boa biblioteca, o que mais é-me dado a admirar". Mota Maia mostra-se perplexo com a ideia e tenta convencer o imperador a desistir da ideia: "Só uma circunstância me tolhe", continua Dom Pedro. "Estou velho, doente, habituado aos cuidados de um médico, nos conventos não há médicos..." Já emocionado, responde Mota Maia: "Acompanharei Vossa Majestade seja onde for". O imperador respira profundamente e diz: "Vá, vá, Mota Maia, receba o dinheiro, salde as nossas contas... Mas o que é isso? Seja Homem! Não me entristeça!". O conde Mota Maia chora amargamente diante de toda a situação.
Após a morte do velho imperador, Cláudio Velho da Mota Maia retorna ao Brasil. Professor de Medicina Operatória na instituição universitária em que se diplomara, morre em 1897, em Juiz de Fora, seis anos após a morte de seu senhor e amigo. Ele é patrono da cadeira 22 da Academia Nacional de Medicina.
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